Juremir Machado da Silva, jornalista do Correio do Povo e ex-correspondente de Veja em Paris, é autor de um interessantíssimo livro sobre a vida de Getulio Vargas. "Getulio" . Busque na livraria de sua preferencia. É uma aula de história.
Reproduzo aqui, uma crônica de Juremir, que achei divertidíssima:
Casamento e separação
Encontrei um amigo há dois dias. Fazia dois que eu não o encontrava. Desde o seu casamento. Ele me falou da sua separação. O casamento, disse, estava custando caro. Literal e metaforicamente.
Fui procurar uma crônica de 2006 em que havia feito as contas. Ei-la:
Tem gente dando festa para comemorar separação. Até aí tudo bem. Afinal, acabar com certos casamentos pode ser uma libertação. Mas o interessante, nestes novos tempos dominados pelo efêmero — em que o máximo de um amor perfeito tem a duração de uma novela das oito, mais do que isso o público acha chato e a audiência cai — é a reformulação do imaginário amoroso desde a infância. Em aniversários de crianças, tornou-se costume, depois do parabéns, cantar uma musiquinha que começa assim: “Com quem será, com quem será que a fulana vai ficar?” E termina de forma inusitada: “Teve filhos e depois se separou”. Adeus ao final feliz? Mais ou menos. A separação passa a fazer parte do pacote e é desdramatizada ou naturalizada.
Tem gente que bate recordes de separação. Tomo o caso do Toninho como exemplo. Depois de seis casamentos e de seis filhos, um de cada mulher, ele já paga quase todo o seu salário de pensão, tudo descontando em folha. Toninho é refém da sua imensa capacidade procrativa. Como ele continua disposto a casar de novo, as suas “ex” criaram uma associação informal para defender os seus direitos e evitar que mais um filho venha a determinar a divisão de mais uma fatia num bolo que já não garante perfeitamente o sustento de todos os toninhozinhos. A operação é simples: as “ex” dão um jeito de infernizar a vida da nova candidata à mulher do Toninho até que ela desista. Trata-se de um trabalho de conscientização. Seria mais fácil se o Toninho aceitasse fazer uma vasectomia. Mas o taura é de Palomas e não aceita intervenções nos seus países baixos.
Sempre que toca o sinal de alarme, uma das “ex” do Toninho, a que estiver solteira no momento, entra em cena para evitar um novo casamento. Vale tudo para impedir o Toninho de procriar. Até mesmo tentar voltar para ele. Ou oferecer cursos de prevenção para a nova escolhida. Tudo isso só funciona porque o Toninho, apesar de fidedigno representante dos novos tempos, continua, no fundo, um tipo muito convencional: só faz filhos depois de casado. Ou, em última instância, casa assim que uma namorada engravida. Isso complica as coisas para as “ex”, pois é preciso agir por antecipação. Por ora, Toninho está sob controle.
Já o Carlão, que é um pragmático, resiste à moda e não se separa. Fez as contas e concluiu que separação dá prejuízo. Além de terminar no mesmo lugar: outro casamento.
Postado por Juremir Machado da Silva - 06/03/2010 09:50 - Atualizado em 06/03/2010 09:51
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