sexta-feira, 31 de agosto de 2012


De 1981 para cá

 

 

Havia 5 anos em 1981 quando eu ficara interno em um colégio religioso, onde aprendi latim, disciplina e que eu não deveria locupletar em mim o intento de formar-me um daroês católico. Em 1981 eu completara 17 anos, tendo jogado minha adolescência em banhos de chuveiro gelado, tática dos “mestres” para o refreio dos sensos `malignos`, maldade dentre outras que fazem de mim um enojado da Igreja Catolica. Banho gelado, comida de quartel, e horas imprestáveis de reflexão coletiva, - éramos em 150 -, nas tardes de sábado. Passou, mas ainda falarei amiúde de tudo isso, e mais.

De 1981 para cá, vi-me intrigado e resoluto em descobrir a essência de uma aura encalacrada aqui, na aldeia, que de todos podava e poda, iniciativas, e a todos submetia, -agora me refiro mais ao passado-, a uma passividade, a mais generalizada possível, mas sim, inimaginável. Levei em conta a diversidade das miscigenações, e alhures onde prosperam certas “pragas” , como a de um certo santo Joao Maria, que nada mais era que um mercenário fugitivo da Guerra do Contestado.

Muito mudou nestes últimos 30 anos por aqui. Bastante, mas não o suficiente para tirar dos filhos e netos dos nativos a porção do preconceito, da inveja, da passividade, da desagregação, mas muito especialmente do serviço de desfazimento, muitas vezes daquilo que nunca se fez, que presta somente aos pequenos, de círculos de um mundo tão restrito, tão pobre, mostrando ver que isso é nutrição para uma gentalha vagabunda, cujo senso crítico não alcança mais que a cerca do vizinho. Pobre vizinho.

Assemelha-se a uma mudança, - parcial, claro-, quando muitos de fora, mas muitos mesmo vieram aqui morar, estabelecer-se, tomando por base a prospecção monetária do “vazio” , e também através de diversas igrejas e seitas. O “vazio”a que me refiro é o empreendedorismo. Nós, os nativos, não temos vocação para o associativismo. Fosse isso uma mentira e viveríamos o inferno, nada do de Dante, mas aquele terrível que imaginamos em nossas mentes fracas. Teríamos a maior batalha de vogais e consoantes.

Dos que vieram, - e muitos vivem num vai e vem sem fim-, alguns foram cingidos, ficaram doentes como os nativos, e são apenas arremedo de qualquer progresso que se possa imaginar num ser humano. Contrariamente, a valentia e a “ciganagem” mostrados pela maioria separou-os entre os que vivem num anel de entorno ao centro da cidade, e os que vivem em bairros mais afastados, onde lá se pratica o arbítrio alheio na “cara dura” , com menos falsidade e hipocrisia, porém.

Nesse ínterim, consequenciando o hoje, já não mais conheço as pessoas. Raras. Ninguém mais conhece ninguem por aqui, com exceção é claro, daquela porção nativa pactuada em sobreviver de uma perversão psicológica, vindo isso a ser um acobertamento de fatos, de vidas, uma espécie de troca-troca, dá-me cá, dou-te lá. Terrível. Uma rede de proteção.

Já tentei escrever sobre isso, e bem nesse ponto de transigência vêm-me uma dificuldade. Eis-me a enfrentá-la uma vez mais.

Qualquer pacato que por aqui apareça, com reles conhecimento, sentir-se-ia numa Paris, numa Nova Iorque. Muitos pacatos para cá vieram e por aqui ficaram. Deitam risos em suas festas particulares, e com poucos daqui confessam um não entendimento, falando claramente dos bentos e tementes de Joao Maria e toda a sua pobreza.

Como todo rico torna-se opulento, especialmente quando no limiar que mostra um crescimento, -e os clubinhos destes detestam o associativismo-, constato afirmando que na moyenne, na média, não há o que se fazer, pois a prosperidade avultou em cada um, e isso foi tomando um novo lugar na nova aldeia. A idéia antiga, a da submissão, ainda persiste, embora tenha fim marcado. Comprovo claramente com as delegações da igreja, do poder publico, de Joao Maria, da relevante e revelante ignorance, que produziram graves e seríssimas conseqüências. Não posso deixar de jogar na bacia das almas a pífia protagonização de alguns juristas que deveriam também debruçar-se  sobre o status social, e arbitrar e intervir em questões antropológicas e sociológicas, culturais que são, ou foram, daninhas pelo que justifico. Ou há algum saldo disso tudo ?

 

 

Teobaldo Mesquita

 

 

Um comentário:

Márcio de Ávila Rodrigues disse...

Encontrei seu blog no Google e observo que você produzia muito até 2008 e depois reduziu. Mas o material que encontrei nos anos anteriores foi muito interessante e dou parabéns.