Mais recente crônica na Folha de Irati....

Cansei

Cansei de enxotar o diabo e esperar por Deus. Cansei. Cansei de tudo. Cansei de olhar meu passado e revê-lo tão cheio de amores e pendores, que acabaram em dores. Cansei das dores essas. Cansando estou das dores novas. Estou insuportável, embora não excitado, e sim cansado mesmo.

Cansei de algumas lutas, estou abandonando sonhos, alguns nem os vejo mais, nem lembram eles de mim, nem eu deles. A quimera dourada é uma bobagem, o amor sob debaixo de viadutos é uma mentira, meu coração se estira, e nisso viro, um arlequim triste e taciturno, que já não espera mais que o prazer na dor. Como o vêem Wilde e Dostoievski, talvez. Também não sei...

Tenho obtido pequenas vitorias, tenho conseguido manter minha altivez controlada para cima, mas além de cansado, estou sem saber de nada, estou não sabendo de nada....

Se me perguntam trivialidades, digo que não sei. Se bem que sempre fizesse isso com relação às trivialidades, essas bobagenzinhas do dia-a-dia, essas perfumarias, essas comadragens e fofocas de esquinas e corredores. E se agora me perguntam de coisas sensatas, mostro-me insensanto com aquele olhar malévolo, de rosto comprido e abobado. E de propósito. E de muito mau humor.

Ando de mau humor porque cansei de muitas coisas. Já desejei um dia de 48 horas, mas nem escrever consigo. Agora mesmo, faço-o sem tabulação mental, desprovido de qualquer inspiração ou estratégia mínima que se requeresse.

Deixei meu time de futebol. Troquei-o por dores articulares insuportáveis, bem como se dá naquelas mulheres de consultório medico...aquelas, de meia idade e vida pouca.... Troquei minhas crônicas e poesias por uma lombalgia, bem de propósito – como se eu dominasse a dor - , para esperançar alguns carismáticos, de que os pecados, de fato, pesam nas costas.....

Às vezes acho que já morri, e que estou no inferno. Justo eu que não acredito em inferno. Mas se não o é, que o seja, porque afinal as contas estão sendo ajustadas. Estao marcando-me centímetro por centímetro, e cobrando-me moeda por moeda. Ééécaa....detesto moedas.......Mas como as estou pagando, e antevendo a dor e seu prazer, e que virão daqui mais uns dias, alieno-me, porque afinal ainda não aprendi a sentir dor com amor, e de dá-la em amor, ou com amor. E se não aprendi, ofendo o inimigo e magôo o amigo, porque por causa deles ando cansado, sem saber o que dizer, sem saber de nada. Sim. Ensimesmado mais do que nunca, dou a mim mesmo o direito de, além de gritar meu cansaço e minha insolente pachorra, também a de querer viver e morrer sozinho.

Adeus. Semana que vem eu volto pior. Amiudarei a vida no inferno.

Teobaldo Mesquita

teobaldomesquita@uol.com.br