De 1981
para cá
Havia 5 anos
em 1981 quando eu ficara interno em um colégio religioso, onde aprendi latim,
disciplina e que eu não deveria locupletar em mim o intento de formar-me um
daroês católico. Em 1981 eu completara 17 anos, tendo jogado minha adolescência
em banhos de chuveiro gelado, tática dos “mestres” para o refreio dos sensos
`malignos`, maldade dentre outras que fazem de mim um enojado da Igreja
Catolica. Banho gelado, comida de quartel, e horas imprestáveis de reflexão
coletiva, - éramos em 150 -, nas tardes de sábado. Passou, mas ainda falarei
amiúde de tudo isso, e mais.
De 1981 para
cá, vi-me intrigado e resoluto em descobrir a essência de uma aura encalacrada
aqui, na aldeia, que de todos podava e poda, iniciativas, e a todos submetia,
-agora me refiro mais ao passado-, a uma passividade, a mais generalizada
possível, mas sim, inimaginável. Levei em conta a diversidade das
miscigenações, e alhures onde prosperam certas “pragas” , como a de um certo
santo Joao Maria, que nada mais era que um mercenário fugitivo da Guerra do
Contestado.
Muito mudou
nestes últimos 30 anos por aqui. Bastante, mas não o suficiente para tirar dos
filhos e netos dos nativos a porção do preconceito, da inveja, da passividade,
da desagregação, mas muito especialmente do serviço de desfazimento, muitas
vezes daquilo que nunca se fez, que presta somente aos pequenos, de círculos de
um mundo tão restrito, tão pobre, mostrando ver que isso é nutrição para uma
gentalha vagabunda, cujo senso crítico não alcança mais que a cerca do vizinho.
Pobre vizinho.
Assemelha-se
a uma mudança, - parcial, claro-, quando muitos de fora, mas muitos mesmo
vieram aqui morar, estabelecer-se, tomando por base a prospecção monetária do
“vazio” , e também através de diversas igrejas e seitas. O “vazio”a que me
refiro é o empreendedorismo. Nós, os nativos, não temos vocação para o
associativismo. Fosse isso uma mentira e viveríamos o inferno, nada do de
Dante, mas aquele terrível que imaginamos em nossas mentes fracas. Teríamos a
maior batalha de vogais e consoantes.
Dos que
vieram, - e muitos vivem num vai e vem sem fim-, alguns foram cingidos, ficaram
doentes como os nativos, e são apenas arremedo de qualquer progresso que se
possa imaginar num ser humano. Contrariamente, a valentia e a “ciganagem”
mostrados pela maioria separou-os entre os que vivem num anel de entorno ao
centro da cidade, e os que vivem em bairros mais afastados, onde lá se pratica
o arbítrio alheio na “cara dura” , com menos falsidade e hipocrisia, porém.
Nesse
ínterim, consequenciando o hoje, já não mais conheço as pessoas. Raras. Ninguém
mais conhece ninguem por aqui, com exceção é claro, daquela porção nativa
pactuada em sobreviver de uma perversão psicológica, vindo isso a ser um
acobertamento de fatos, de vidas, uma espécie de troca-troca, dá-me cá, dou-te
lá. Terrível. Uma rede de proteção.
Já tentei
escrever sobre isso, e bem nesse ponto de transigência vêm-me uma dificuldade.
Eis-me a enfrentá-la uma vez mais.
Qualquer
pacato que por aqui apareça, com reles conhecimento, sentir-se-ia numa Paris,
numa Nova Iorque. Muitos pacatos para cá vieram e por aqui ficaram. Deitam
risos em suas festas particulares, e com poucos daqui confessam um não
entendimento, falando claramente dos bentos e tementes de Joao Maria e toda a
sua pobreza.
Como todo
rico torna-se opulento, especialmente quando no limiar que mostra um
crescimento, -e os clubinhos destes detestam o associativismo-, constato
afirmando que na moyenne, na média, não há o que se fazer, pois a prosperidade
avultou em cada um, e isso foi tomando um novo lugar na nova aldeia. A idéia
antiga, a da submissão, ainda persiste, embora tenha fim marcado. Comprovo
claramente com as delegações da igreja, do poder publico, de Joao Maria, da
relevante e revelante ignorance, que
produziram graves e seríssimas conseqüências. Não posso deixar de jogar na
bacia das almas a pífia protagonização de alguns juristas que deveriam também
debruçar-se sobre o status social, e arbitrar e intervir em questões antropológicas e
sociológicas, culturais que são, ou foram, daninhas pelo que justifico. Ou há
algum saldo disso tudo ?
Teobaldo
Mesquita